Lenço Verde



Era uma vez um menino querido, doce e gentil. Bastava olhar para ele que todos ao seu redor o admiravam, quem mais o amava era seu avô, que fazia de tudo para lhe agradar. Um dia lhe presenteou com um lenço verde de seda, o qual colocou em seu pescoço e nunca mais o tirou e a partir desse dia, todos os aldeões passaram a lhe chamar de Lenço Verde.
Muito tempo se passou, Lenço Verde cresceu e se tornou um belo moço. Certo dia, ele recebeu a notícia de que seu avô estava enfermo e desejava vê-lo. Então, seu pai cuidadosamente, preparou uma cesta, colocando nela uma deliciosa torta de maçã quentinha, recém retirada do forno, com um aroma magnífico de dar água na boca, e uma garrafa de leite de cabra. Arrumando tudo dentro da cesta, a entregou para seu filho levar. Mas antes lhe disse:
- Leve isso para a casa de seu avô. Ele está fraco e doente, assim ele ficará mais feliz e isso vai o ajudar a melhorar. Não se esqueça de mandar lembranças minhas para seu avô. Mas meu filho, escute este conselho de seu velho pai, não entre na floresta que fica pelo caminho da estrada. Muitos aldeões entraram nela e nunca mais voltaram ou foram vistos novamente. Passe longe dos caminhos da floresta, ou será devorado pelo espírito sombrio que habita naquelas proximidades. Até os homens mais destemidos temem aquele lugar.
Ouvindo isso, Lenço Verde pegou a cesta e se despediu de seu pai prometendo que não iria entrar na floresta. Feliz, seguiu caminho afora.
A casa de seu avô ficava na parte leste do vilarejo, levando algumas longas horas de caminhada. Após uma certa distância, o sol estava escaldante. A estrada era feita de terra batida, repleta de pedras soltas de todos os tamanhos. Mas, sem uma sombra pra se esquivar do ardente calor.
Logo adiante, nas proximidades da floresta, Lenço Verde avistou uma macieira vistosa com tronco alto, galhos largos com folhas verdes que balançavam ao vento, carregada de maçãs grandes e vermelhas que pareciam ser suculentas. Ao seu redor havia uma sombra tranquilizante com uma vertente de água fresca e gelada ao lado. Lenço Verde se sentiu muito tentado e não pode resistir de desfrutar daquele momento. 




Após repousar, decidiu seguir o caminho pela floresta, se esquecendo do conselho de seu pai, pois o sol estava escaldante e pela floresta teria sombra, e afinal, aquele lugar era belíssimo. Ele nunca tinha visto um lugar tão calmo e tranquilo como aquele, a estrada era livre de pedras com algumas folhas secas cobrindo o chão. Seguiu com muita prudência e cautela para não ser visto pelo espírito sombrio que habitava por ali.
Andou.
Andou.
E andou... 
De repente, o ambiente ficou silencioso, o ar ficou denso, tomando conta da floresta e dificultando a respiração. Algo estava se aproximando, próximo dali entre um grande carvalho havia duas pequenas pedras escondidas com marcas de arranhões. 
Uma grande loba, que estava olhando cautelosamente e observando aquele jovem rapaz, em pensamento dizia para si mesma:
       - O que este belo jovem está fazendo por aqui? Ele aparenta ser muito robusto. Possui braços fortes. Tem um andar firme, parece ser muito ágil. Tem lindos olhos verdes e cabelos castanho-escuros com um cheiro muito agradável. Uma carne nova e macia que parece ser muito saborosa. Terei algumas controvérsias para conseguir devorá-lo. Ele é diferente de todos outros que já devorei, eles tinham um cheiro esquisito, possuíam um péssimo gosto. Acredito que deveria ser porque não tinham a capacidade de se lavarem decentemente. Mas afinal, o que eu poderia fazer? Precisava manter minha reputação. Era melhor do que nada, não sou um ser ingrato, saboreava o melhor que eu poderia.
De repente, a Loba surgiu do meio do carvalho e seguiu em direção à Lenço Verde.


Lenço Verde avistou uma criatura que vinha em sua direção. E ficou sem reação ao ver a Loba com seu andar delicadamente sutil. Seus olhos eram azuis celestes, penetrantes e hipnotizantes. Seus pelos eram longos, brancos e muito macios como flocos de neve. Possuía um perfume marcante, como uma suave essência de jasmim. Aquela criatura era terrivelmente encantadora, com sua doce voz envolvente.
- Então me diga meu belo jovem, o que andas fazendo se arriscando e se aventurando nestas partes da floresta?
- Hoje está um dia muito quente, para escapar do ardente calor do sol, pensei ser melhor seguir pelo atalho do caminho da floresta, já que aqui tem um ar refrescante com as sombras dos galhos das árvores e essa suave brisa.
-  Então me diga meu belo jovem, para onde vais?
      - Estou levando uma cesta para meu avô que está enfermo.
- Meu jovem, não ouviu os boatos que rondam este lugar? Não temes o perigo de que o espírito sombrio possa te encontrar e devorá-lo?
- Como poderei temer algo que não posso ver? Então, me diga minha encantadora Loba, como é esse espírito sombrio?
        - Não sei se devo lhe contar, é como se meu sangue congelasse somente de recordar a imagem daquela criatura misteriosa. Ele é uma figura horripilante que anda sorrateiramente entre as árvores, muito sigilosa e ainda mais cautelosa, é uma predadora muito articulosa... Uma alma penada com aparência humana, coberta com um casaco de pele de urso, e usa botas de couro de cobra, leva consigo um machado muito afiado. Ela é terrivelmente letal. Não se iluda ou se atraía por sua imagem e palavras. Presenciei com meus próprios olhos, muitos aldeões vieram até a floresta, esse ser se aproximou oferecendo companhia dizendo que o espírito sombrio que habita neste lugar se parecia com uma Loba grande e branca, assim como eu... Com instintos primitivos e que havia devorado vários aldeões sem misericórdia alguma... Olhe para mim, meu belo jovem, você acreditaria que eu seria capaz de fazer tal mal como esse? Eu tenho sido caluniada todo este tempo por aquele ser cruel e perverso... Até mesmo uma Loba destemida como eu, teme em se deparar com aquela criatura.
- Não se preocupe minha querida Loba, não me deixarei enganar e vingarei todos do vilarejo.
- Então me diga meu jovem, para onde vais, há muitos dias de caminhada?
- Estou indo para a casa de meu avô, que fica logo adiante, embaixo de três carvalhos, em volta há arbustos com um longo riacho logo atrás de sua casa, fica há alguns minutos de caminhada.
Dito isso, os dois se despediram, e cada um seguiu o seu caminho, Lenço Verde em direção a casa de seu avô e a Loba seguiu floresta á dentro.
Ao entrar no atalho que seria mais rápido, a Loba exclama para si mesma:
- Meu plano é extraordinariamente perfeito, não há como dar errado. Que rapaz mais ingênuo, ele é muito tolo para não perceber a diferença entre a lenhadora e um espírito que nem sequer existe. Ele está seguro de que ela tem causado o desaparecimento dos aldeões, assim ele se encarregará dela para mim, já que ela vem me caçando há vários dias, enquanto isso, devoro seu frágil avô. Me livrarei de todos os infortúnios que estão em meu caminho em um único dia.




Com alguns minutos de caminhada, a Loba avistou a casa do avô de Lenço Verde que era pequena e de madeira. Havia uma varanda em sua frente, sob a sombra do carvalho. Aparentemente era muito acolhedora. A Loba entrou na varanda e abriu a porta, entrou suavemente com muito cuidado para não fazer nenhum barulho. Seguiu em direção ao quarto do velhinho, saboreando sua vitória, mas a porta se encontrava trancada.
- Que maldição a porta está emperrada, como vou abrir este maldito trinco?
Quando Lenço Verde chegou na casa de seu avô, ao pisar na varanda, avistou o espírito sombrio da floresta, sem pensar duas vezes, jogou a cesta que levava no chão, empunhando seu punhal que levava na cintura, partiu em direção ao destemido espírito sombrio da floresta.
A lenhadora vendo aquele jovem vindo em sua direção, querendo atacá-la, gritou furiosamente:
- O que você está fazendo? Por que quer me ferir? Nunca nos vimos antes em lugar algum, está cometendo um grande equívoco. Deveria estar fazendo isso com a Loba e não a mim. Como ousa me atacar?
- Não tente me persuadir, sei exatamente quem você é. A Loba me avisou sobre você. Você não vai me enganar.
- Não é o que está parecendo. A Loba é quem tem devorado os aldeões do vilarejo, seu tolo. - gritou a Lenhadora furiosa.
- Você não vai me enganar, não sou tolo para acreditar em suas palavras. Te matarei e vingarei todos os aldeões do vilarejo que desapareceram e ainda ganharei uma bela recompensa, livrando todos os vilarejos da sua ameaça.
Dito isso, lutaram ferozmente e com um forte golpe, Lenço Verde derrubou a Lenhadora sobre o chão, pronto para executar seu último golpe, quando escutou um forte estrondo vindo de dentro da casa de seu avô. Assustado, ignorou a Lenhadora caída no chão e partiu rapidamente para dentro da casa de seu avô.
Entrando na casa, encontrou a Loba que acabava de arrancar a porta do quarto de seu avô para devorá-lo. Seu avô se encontrava deitado sobre a cama dormindo profundamente. Neste mesmo instante, percebeu o erro terrível que cometeu, a Loba o enganou para que se livrasse definitivamente da Lenhadora, enquanto devorava seu avô.
Furiosamente, Lenço Verde lançou seu punhal sobre a Loba a atingindo e ferindo-a. A Loba sentiu-se ameaçada pela Lenhadora que rapidamente se aproximava tentando atingi-la e feri-la com seu machado. Então, a Loba fugiu pela janela do quarto que estava entreaberta. 
Como estava ferida na fuga, acabou cambaleando e perdendo o equilíbrio, caindo no riacho que ficava logo atrás da casa do avô de Lenço Verde, sendo arrastada por fortes correntezas.
Lenço Verde muito arrependido tentou se desculpar pelo ocorrido e seu terrível erro, mas como a Lenhadora estava se sentindo muito ofendida o ignorou e se retirou não aceitando suas desculpas, o deixando com seu avô consertando os estragos causados pela Loba. Ao sair, ela avistou a cesta na varanda e sorrateiramente pegou a cesta e a levou consigo.
- Oras, por instantes quase perdi minha vida, o que custaria para Lenço Verde perder a cesta com a torta? - disse a Lenhadora para si mesma, levando a torta como indenização por danos morais e ameaças causados por aquele tolo rapaz.
A Loba desapareceu e nunca mais foi vista novamente, e assim, todos os vilarejos se tranquilizaram. Nunca mais desapareceram aldeões ao entrarem na floresta.



Por: Irmãs Franco Ale e Sabry

Imagens da Capa: Canva


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